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quinta-feira, 15 de julho de 2010


Quando eu era menina, mamãe me aconselhava a tomar cuidado com as minhas ‘amigas’.
Depois, quando cresci mais, papai repetiu para mim o surrado provérbio:
“Dize-me com quem andas e te direi quem és”.
Não consigo avaliar se consegui obedecê-los, mas, por outros motivos, troco de amigas.
Cheguei à meia idade bem decepcionada com a palavra Amizade.
Como reluto para não tornar-me cética, busco andar ao lado de verdadeiros amigos; porém, isso não é fácil.
Devido a internet, consegui encontrar uma companheira do passado, que imaginei ser uma boa amiga.
Eu havia perdido contato com ela há alguns anos.
Redigi uma mensagem cheia de afetos e saudade e pedi-lhe que retomássemos os vínculos.
Acrescentei que anelava por companhia.
Ela respondeu agradecendo minha “carta eletrônica” e foi logo propondo que, daquele dia em diante, compartilhássemos nossos esboços dos textos de sites e/ou blogs.
Quase chorei.
A última coisa que eu esperava dela era o “esqueleto” do que escrevemos com a alma.
Mas mesmo com tantas decepções insisto em garimpar amigos.
Quero ser amiga de quem valorize a lealdade.
Sinceramente, não consigo lidar com amizades que só se mantêm por causa de conveniências, qualquer uma.
Quero acreditar em amizades que não se intimidam com censuras, que não retrocedem diante do perigo e que não abandonam na hora do apedrejamento.
Amigos não deserdam.
Quero ser amiga de quem eu não precise me proteger e que não tenha receios de mim.
Não creio em companheirismos repletos de suspeitas.
Os grandes amigos são vulneráveis.
Conversam sem se policiar, rasgam a alma e sabem que seus segredos jamais serão lançados em rosto ou expostos publicamente.
Quero ser amiga de quem não se melindra facilmente porque não sei ficar pisando em ovos.
Por mais que tente, continuo crédula nas pessoas; magôo com meus silêncios, com minha introspecção e, muitas vezes, com meus comentários ácidos e impulsivos.
Portanto, preciso de amigos que tolerem minhas heresias, minhas hesitações e meus pecados.
Busco amizades que agüentem o baque das minhas inadequações; que sejam teimosos e não desistentes.
Quero ser amiga e não uma mera cúmplice de talentos ou vocação.
Já dei palestras em alguns ambientes mais uníssonos do que no meio de poucos ‘amigos’.
Não tolero manifestações artificiais de coleguismo restritas a reuniões festivas.
Para mim, nada é mais ridículo do que proclamar que somos amigos, para depois sair criticando uns aos outros com farpas venenosas.
Quero ser amiga de quem não contenta em re-encaminhar mensagens re-encaminhadas de power-point.
Também não gosto de cartões de aniversário com frases prontas e com obviedades.
Acredito que os verdadeiros amigos têm o que repartir e que sentem necessidade de expressar seus sentimentos, suas dúvidas e principalmente seus medos e aflições
Amizades superficiais são mais danosas para o espírito do que inimizades explícitas.
Quero ser amiga de quem não é muito certinho.
Não tolero conviver com quem nunca tropeça nos próprios cadarços, que nunca teve sonho erótico e que mantém a língua sob controle absoluto.
Vez por outra, gosto de relaxar, rir do passado, gargalhar no presente, sonhar maluquices para o futuro e conversar trivialidades.
Quero amigos que se deliciem em ouvir uma mesma música duas vezes para sentir a riqueza da letra; de comentar o filme que acabaram de assistir e o último livro que leram; e numa mesma conversa, elogiar e espinafrar políticos, atores, árbitros/técnicos de futebol e outras tantas figuras por aí.
Quero amigos especialmente do sexo oposto onde não vêem só a mulher por fora, no esteriótipo, na performance, no físico, mas, o que sou no interior, como cabeça pensante, na minha essência.
Como é bom saber-se aceita como sou e não com o que tenho de pernas, seios, bunda, um rosto bonito, cabelos sedosos, pele saudável, etc
Ah...
Como é bom chorar com poesia!
Compartilhar com profundidade de alma!
Amar sem malicia!
Quero terminar meus dias e poder dizer que, mesmo descrendo das ideologias, dos sistemas econômicos e das instituições religiosas, cri na espiritualidade de quem é espiritual e em verdadeiras amizades porque tive bons amigos.
Até porque Deus não só ama, como também nos chamou de amigos.

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